Psicanálise e Política: Miram Debieux Rosa

Evento

/e/19799-psicanalise-e-politica-miram-debieux-rosa

: Auditório da Faculdade de Odontologia da UFG

: 19 de Outubro 2018 às 19:00

Desde Junho de 2013, com as intensas e volumosas manifestações populares que tomaram conta do país, com reivindicações e propostas das mais variadas, o Brasil vivencia um período de efervescência e acentuado debate ético, político, social e cultural. No ano seguinte a esse período de manifestações, tivemos as eleições presidenciais mais acirradas de nossa história. Mais recentemente, tivemos outro momento político importante do nosso país, o processo de impeachment da presidenta Dilma e a ascensão de um governo, atolado em escândalos, com uma agenda perniciosa aos interesses nacionais. Ausência de liberdades civis, a corrupção de agentes públicos, a precarização das relações de trabalho, a derrocada da democracia representativa e a ingerência de grandes corporações sobre o governo. 

As relações assimétricas de poder que vivenciamos no país, entre uma casta política que se reveza nos órgãos legislativo e executivo, incorporando a máquina administrativa em favor da manutenção de seus interesses, e a classe trabalhadora despossuída de poder decisório. Existe um sintoma social em nossa organização sociopolítica que cristaliza relações hierárquicas de poder (“manda quem pode obedece quem tem juízo”, “você sabe com quem está falando?”), uma concentração de riqueza que gera uma obscena desigualdade social e uma matriz de pensamento moralista, autoritária e conservadora que naturaliza violências (feminicídio, racismo, “bandido bom é bandido morto”, “volta a ditadura”, “tem que vestir a camisa da empresa” etc.). Esse sintoma tem uma raiz muito marcante de nosso violento e cruel processo de colonização. Tal processo de colonização deixou marcas profundas em nosso laço social – “laço social brasileiro”? 


O inconsciente guarda os restos não escritos/não elaborados dos nossos traumas históricos. O recalcado se transmite e produz efeitos que só depois serão nomeados e inscritos na cultura que os produziu. As próprias transformações, progressistas ou regressivas, que afetam permanentemente as formas da cultura, ocorrem como que à revelia dos sujeitos, que delas participam sem saber que o fazem. Para o debate ficam questões como: O que a psicanálise tem a dizer sobre a dimensão sociopolítica do sofrimento na cultura brasileira e no “laço social brasileiro”. De que maneira nossa estrutura social cria e perpetua o desamparo discursivo? Quais são as práticas discursivas que produzem o “sujeito brasileiro”? Que ideais circulam em nossa cultura e produzem um “Ideal de Eu brasileiro”? De que maneira opera a fantasia ideológica e existe alguma particularidade nos países que foram colonizados?

Miriam Debieux Rosa

Miriam Debieux Rosa é Psicanalista, professora Associada do Programa de Psicologia Clínica da USP, onde coordena o Laboratório Psicanálise, Sociedade e Política e o Grupo Veredas: psicanálise e imigração. Lidera o Grupo de pesquisa CNPq Sujeito, sociedade e política em psicanálise (USP). Membro do Grupo de trabalho Psicanálise: Política e Cultura, da ANPEPP. Publicou o livro A clínica psicanalítica face ao sofrimento sócio-político (2016), pela Ed. Escuta e Fapesp (primeiro lugar no prêmio Jaboti 2017, psicologia e psicanálise).

Miriam Debieux Seminário UFG

Categorias : destaque