Mulher vence rotina de trabalho em “lixão”
Conciliando trabalho e estudos, trabalhadora de cooperativa, apoiada pela Incubadora Social da UFG, passa para o curso de Administração
Texto: Maria Glória Alves
A estudante Arislayne Glaucielle Dalberto Marques, 25 anos, mãe de duas crianças pequenas, passou no vestibular da Universidade Estadual de Goiás (UEG) para o curso de Administração. Nenhuma novidade nessa informação se a estudante não fosse uma catadora de material reciclável há mais de sete anos, na cidade de Anápolis. “Foi uma das minhas grandes vitórias”, frisa a trabalhadora, que agora terá que se desdobrar para conciliar trabalho, estudos e família.
A jovem conta que o tempo que tinha para estudar era apenas à noite. Durante o dia, de segunda a sábado, ela trabalhava, até pouco tempo atrás, no lixão da cidade. No ano passado, conseguiu frequentar as aulas de um cursinho, que era pago pela comunidade de uma igreja. “Além do pessoal da igreja, recebi ajuda de uma promotora da cidade, que pagou todo o material de escola que precisei”, diz, acrescentando que sem esses apoios seria praticamente impossível frequentar uma escola. “O que eu ganho não sobra para este tipo de gasto”, frisa a catadora, informando que a sua renda mensal – e a de muitos outros trabalhadores desse ramo – gira em torno R$ 500,00.
Arislayne Marques diz que sua rotina será muito mais intensa a partir desse ano, pois, além de estudante, ela assumiu, em outubro de 2014, a presidência da Cooperativa de Trabalhadores de Materiais Recicláveis de Anápolis (Cooper Can), fundada neste mesmo mês. “Vou ter que rebolar para conciliar todas as minhas atividades, sem desmerecer nenhuma. Quero ser uma boa aluna, uma trabalhadora competente, uma mãe dedicada e, nos próximos dois anos, uma presidente atuante”, fala a catadora, que está otimista com a possibilidade de melhorar de vida com uma qualificação melhor.
Sobre sua permanência no ramo, a estudante faz questão de reafirmar sua intenção de manter-se na reciclagem por muito mais tempo, mesmo depois de formada. Arislayne tem, inclusive, muitos planos para a cooperativa que ajudou a fundar. Entre seus objetivos estão a ampliação do quadro de trabalhadores e a melhoria da sua logística, proporcionando uma visão mais formal e profissional do negócio. Hoje, a Cooper Cam conta com 13 cooperados, em sua maioria mulheres.
História – A catadora conta que antes da constituição da Cooper Can, em outubro de 2014, os trabalhadores desse ramo trabalhavam no lixão da cidade. “Foi uma grande luta até chegarmos nesse ponto. Trabalhávamos sob sol quente, expostos a todos os tipos de riscos, até de doenças graves. Mas a disposição e a organização de nosso pessoal resultaram na constituição, no ano passado, da Cooper Can”, relembra a gestora, acrescentando a participação fundamental da Incubadora Social da UFG.
Ela explica que a Incubadora foi responsável, por exemplo, por todo o processo de formação dos catadores, que começou três meses antes da criação da cooperativa. “Por meio de oficinas pedagógicas em cooperativismo popular e economia solidária, formamos nossa base para o trabalho cooperado”, comenta a presidente.
Superado o desafio da criação da Cooper Cam, atualmente os catadores enfrentam outros obstáculos, bastante recorrentes na área da reciclagem: a baixa produtividade e a pouca qualidade do material gerado na coleta seletiva da cidade. Para contornar parte do problema, eles estabeleceram acordos com algumas empresas do Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia), visando a doação periódica de materiais recicláveis para a cooperativa.
Mesmo com novos desafios, a presidente está otimista com perspectiva de crescimento da cooperativa. E ela justifica seu otimismo: “Nós, catadores, vamos contar, a partir desse mês, com uma ajuda de custo da prefeitura no valor de 500 reais por cooperado”. Esse auxílio poderá se estender por um ano, com possibilidade de prorrogação para mais um ano.
Fonte: Incubadora Social/UFG
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