Entrevista com Ná Ozzetti
Marcela Gomes
Fotos: Carlos Siqueira
1. Qual foi seu primeiro contato com a música?
Eu sou de uma família que gosta de música, meu avô e meus tios eram músicos amadores. Eu cresci nesse ambiente onde a família tem o hábito de ouvir música e colocar as crianças desde cedo para ouvir também e cantar e tocar. Acabou que eu e meus irmãos nos tornamos músicos e, agora, os sobrinhos também. Minhas memórias mais remotas são as memórias musicais, das coisas que mais me emocionavam, que a vida me mostrou como a coisa maior da vida.
2. Mas, com toda essa formação musical, você acabou fazendo faculdade de Artes Plásticas. Por quê?
Quando eu fui prestar vestibular, a faculdade de música de São Paulo era muito voltada para música erudita e eu vinha de uma formação popular. Achei que não encaixaria bem. Prestei para Cinema, depois para Biologia e acabei entrando para Artes Plásticas. Foi uma experiencia muito rica, aprender outras linguagens, outras formas de criação, que não só a musical foi muito importante. Mas foi na faculdade que ficou muito claro pra mim que eu tinha muito mais intimidade com a música do que com as artes plásticas. Então, eu conheci o pessoal do grupo Rumo e parti para a minha carreira musical.
3. Nessa vida musical há algo que te influencia, além das referências musicais?
Existem muitas coisas que ajudaram a formar meu canto e a minha música. As artes plásticas foi uma delas. E outra que vem me acompanhando desde o início da carreira é a dança, que eu faço desde a época do grupo Rumo. Eu era muito tímida antigamente, então para ter mais desenvoltura no palco entrei nesse universo. E eu tive sorte de ser aluna do Klauss Vianna, que tinha um trabalho muito profundo de conhecimento corporal e, assim, eu me apaixonei. E, principalmente, a minha forma de cantar tem total ligação com essa experiência. A escola do meu instrumento “voz” foi a dança.
4.O novo álbum Meu Quintal foi uma criação coletiva. É importante estabelecer parcerias?
Eu gosto muito dessa dinâmica de grupo, não é a toa que comecei a minha carreira em um grupo. Adoro criar com outras pessoas. Eu estou com essa equipe de músicos (Dante Ozzetti, Mário Manga, Sérgio Reze e Zé Alexandre Carvalho) desde o lançamento do disco Balangandãs. E a gente não parou mais. No Meu Quintal, o nascimento das composições foram inspiradas na sonoridade da banda, porque eu sabia que podia render muito com eles.
5. Esse ano, você começou a escrever um blog. O que te levou a entrar no mundo cibernético? E o que você está achando dessa experiência?
Eu adoro internet. Ela democratizou muito a produção artística, abrindo portas para outras manifestações, que ás vezes não alcançam o mercado fonográfico. No meu caso, o blog está dentro do site, como se fosse meu quintal, meu cantinho, onde escrevo para divulgar coisas que gosto ou sobre meu trabalho e eu sinto uma interação imediata com o público.
6. Com uma trajetória de 30 anos, você acompanhou as transformações da música brasileira. Como você avalia o cenário atual?
A música brasileira como sempre é grandiosa, eu sinto que há uma riqueza muito grande. Mas, desde a década de 80, a grande mídia está trabalhando só um tipo de música mercadológica. Então, dá impressão de que a produção de música brasileira é apenas aquela que ouvimos no rádio ou na televisão. E fica muito restrito para pessoas, que só se informam através desses meios de comunicação e a produção nacional tem várias tendências.
7. Você está se apresentando em um projeto universitário hoje. Como você sente a interação entre o público jovem e o seu trabalho?
Apesar de ter tantos anos de carreira e ter um público que está sempre me acompanhando, a cada lançamento de disco o público vem crescendo de uma forma discreta. A sensação que eu tenho é que sempre eu estou em contato com uma nova plateia, porque sempre tem as novas gerações - quem mais aparece nos shows e mais procura os lançamentos. Eu estou sempre me apresentando para um novo público.
8. E projetos como o Música no Câmpus são importantes para criar novos públicos?
Esse projeto é maravilhoso. É próprio das gerações universitárias acordarem para a cultura e, dentro dessa ideia, o Música no Câmpus contribui para isso, trazendo artistas diversos, e mostrando para as pessoas essa diversidade da música brasileira.
Fonte: ASCOM/UFG
Categorias: Música no Câmpus