Intolerância da sociedade brasileira é tematizada em mesa-redonda
Papel da mídia no fomento às práticas de desrespeito à diversidade foi avaliado em atividade do 12º Conpeex
Texto: Serena Veloso
Fotos: Camila Caetano
Onde estariam as explicações para o momento explosivo o qual o Brasil vive atualmente? Qual o papel da mídia na reprodução da intolerância? Como é possível superar essas práticas? Essas foram as questões que permearam as discussões da mesa-redonda com o tema A intolerância no Brasil Contemporâneo – o conhecimento e suas apropriações midiáticas, realizada na manhã desta quarta-feira (21/10), no Centro de Cultura e Eventos Professor Ricardo Freua Bufáiçal. A atividade integra a programação do 12º Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão (Conpeex) da UFG e foi mediada pela professora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa em Direitos Humanos (NDH), Luciana Oliveira, com a participação de convidadas.
Assunto presente no cotidiano das pessoas, práticas de ódio e violência, têm passado por um processo de legitimação nos últimos tempos no Brasil, como destacou a professora do Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Rosane da Silva Borges. “Hoje não causa vergonha nem constrangimento o racista se dizer racista nas redes sociais, homens se afirmarem sexistas, o brasileiro se mostrar xenófobo ou homofóbico”, alegou. De acordo com a professora, alguns dos sinais da constituição desse processo podem ser percebidos na própria mídia, à medida que ela organiza a realidade, orienta discursos e as formas de perceber o mundo.
Professora da UEL provocou a plateia sobre a necessidade de se pensar a intolerância como fator que vai contra o projeto de desenvolvimento do país
Um exemplo apresentado foi o dos discursos punitivistas da mídia sobre a redução da maioridade penal no Brasil. Rosane da Silva Borges constatou que o olhar construído pela imprensa sobre o assunto exclui os indivíduos comumente estigmatizados pela sociedade, como o negro, o pobre, o imigrante, considerados responsáveis pela violência no país. “Podemos observar um lugar de fala da mídia que reforça estereótipos, racismo, homofobia e que reafirma o estigma”, argumentou.
Diversidade sexual
Em relação à diversidade sexual, a mestranda em Filosofia, Ester Sales Matos, também presente na mesa, avaliou que o padrão de comportamento sexual presente na sociedade atual, o qual envolve a heterossexualidade e a relação monogâmica, advém do século XVIII e que foi instituído para atender interesses econômicos da época. Com o crescimento da mídia no século XX, a mestranda entende que ocorreu também, aos poucos, uma abertura para a representação da diversidade sexual, mesmo que os olhares lançados ainda não conseguissem a contemplar de forma digna. “É importante que as pessoas em suas diversidades sexuais sejam visibilizadas pela mídia, pois assim elas podem revisitar suas experiências e aproveitar para propor e construir outras dinâmicas nas esferas públicas”, destacou a estudante.
Mestranda em Filosofia defendeu a necessidade de experimentação da realidade do outro para que ela possa ser representada
Liberdade de expressão e intolerância
Para a coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa em Direitos Humanos (NDH) da UFG e professora da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC), Angelita Pereira de Lima, os sujeitos ainda confundem o direito à liberdade de expressão com a abertura para a manifestação de atos de intolerância, ou seja, de negação dos sujeitos e rejeição de suas diferenças. A mídia, segundo ela, influenciaria na continuidade das práticas intolerantes ao disseminar informações de forma perversa. “Boa parte dos preconceitos e da discriminação que carregamos talvez venha desse manancial de informações e manchetes aos quais estamos expostos todos os dias”, acredita a professora.
Angelita Pereira Lima defende que não basta que as pessoas sejam tolerantes: é necessário reconhecer as diferenças e aceitá-las. “Para superar intolerância é preciso conhecimento, informação, gerar visibilidades das diferenças, dos diferentes e dos desiguais. É preciso familiarizá-los sobre os sistemas de valor fora dos padrões hegemônicos que nos regem”, concluiu.
Angelita Pereira Lima elogiou a composição da mesa-redonda, que se pautou pela valorização da diversidade
Após apresentação da mesa, plateia participou do debate e questionou convidadas sobre necessidade de levar a discussão da intolerância para os espaços públicos
Fonte: Ascom/UFG
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