Movimentos sociais apontam diretrizes para 2012
Patrícia da Veiga
Com foco na Conferência das Nações Unidas Rio + 20, que ocorre em junho, no Rio de Janeiro, representantes da sociedade civil de diversos países divulgaram no sábado, 28/1, em Porto Alegre, uma “agenda de lutas” comum para o ano de 2012. O anúncio ocorreu durante a Assembleia dos Movimentos Sociais e o Ato Público Rumo à Rio+20, atividades do Fórum Social Temático (FST) 2012. Na ocasião, foi publicada uma carta que declarou promover ações “contra o capitalismo, o patriarcado, o racismo e todo o tipo de discriminação e exploração”.
Cerca de mil pessoas passaram pelo local dos dois eventos, a Usina do Gasômetro, na capital gaúcha, representando dezenas de entidades autônomas, de base e estudantis, centrais sindicais, fóruns locais, pontos de cultura, organizações não governamentais etc. Entre os presentes, foram afirmados os seguintes eixos de trabalho: "oposição às transnacionais, às ações de guerra, ao colonialismo, às invasões e à militarização de território; afirmação da soberania alimentar, da justiça ambiental e climática; luta pela paz e pela eliminação da violência contra a mulher".

Mais de mil pessoas acompanharam a Assembleia dos Movimentos Sociais, no sábado (28), durante o Fórum Social Temático, em Porto Alegre (RS)
O combate à chamada economia verde, que mantém os processos de industrialização em larga escala com foco em ações pontuais de sustentabilidade, também foi considerado um dos “alvos” dos movimentos sociais para 2012. De acordo com Pablo Solón, ex-embaixador da Bolívia na ONU, não há conciliação entre capitalismo e justiça ambiental e, conforme esse pensamento, a economia verde seria apenas um paliativo para um mundo em vias de ter seus recursos naturais esgotados. “O que acontece é que a humanidade corre risco de existência. As grandes corporações industriais, que há muito estabeleceram mecanismos de cercamento à natureza morta, querem controlar também os ciclos de vida. É isso o que será levado para a Rio +20. Temos, então, de ser um movimento contra esse discurso”, declarou. Pablo Solón foi mediador do debate Crise capitalista e alternativas à economia verde, promovido na quinta-feira, 26/1.
Reivindicações nacionais também foram incluídas na pauta geral. O movimento estudantil anunciou seguir com a campanha pelos “10% do PIB na Educação” e a Frente Nacional contra a Privatização da Saúde compartilhou documento afirmando a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) e repudiando a criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH).
A representante do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, Andrea Mendes, também se pronunciou: “Gostaríamos de acrescentar ao documento dessa Assembleia a temática da economia solidária, pois em tempos de crise essa é uma alternativa concreta. No mundo, há cerca de 20 milhões de trabalhadores já operando nessa modalidade. No Brasil, esse quantitativo se aproxima de cinco milhões”.
Luiz Gonzaga da Silva, da Central de Movimentos Populares, destacou a necessidade de os movimentos se preocuparem com reforma urbana, moradia e violência nas grandes cidades. “Não é possível que ainda veremos casos como o da desocupação de Pinheirinho, em São José dos Campos (SP)”, discursou.
Calendário – No calendário dos movimentos sociais, consta uma marcha unificada para o dia 5/6/2012. Inicialmente, essa passeata se concentraria no Rio de Janeiro, local onde será realizada a Rio+20, mas os militantes solicitaram que a ação fosse feita de forma estendida. Foi o caso de Borges Sanches, um dos espanhóis que ocupou Barcelona em 2011 em protesto às medidas de recessão tomadas pelo governo desse país. “Podemos demonstrar como estamos unidos em vários continentes se organizarmos atos em diversas cidades nesse mesmo dia”, disse, em plenária.

Integrante do movimento "Ocupa Barcelona" sugeriu que o ato público de 5/6 seja realizado em várias capitais do mundo
Durante a Conferência da ONU, entre 17 e 23 de junho, os mesmos participantes do Fórum Social Temático 2012, reunidos em mais de 30 organizações e redes nacionais e internacionais, ocuparão o Aterro do Flamengo, na capital fluminense, e promoverão a Cúpula dos Povos. João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), declarou que a tarefa desse evento paralelo é evitar que a Rio + 20 se torne um “teatro governamental”. “Uso essa expressão porque normalmente os acordos de proteção ambiental são firmados, mas não são cumpridos de forma homogênea entre os países e muito menos entre as grandes corporações”, argumentou.
Os documentos elaborados pelos Grupos de Trabalho ao longo do Fórum Social Temático e que serão levados a debate na Cúpula dos Povos ainda não foram divulgados. Além das preparações para a Rio + 20, foi dada a partida rumo ao Fórum Palestina Livre, que ocorre no mês de novembro, em Porto Alegre.
A organização do evento calculou a participação de 40 mil pessoas em seis dias de programação, sendo dessas 10 mil inscritas. O balanço do Fórum destacou ainda que 56% dos inscritos foram mulheres e 38% foram jovens com menos de 29 anos. “Houve representantes de 38 países dos cinco continentes, incluindo participantes de locais como o Nepal, Burquina Faso e Guiné Bissau”, indicou o texto de avaliação do FST, divulgado nesta segunda-feira.
Das 800 atividades marcadas, 670 foram concretizadas. Em 2013, o Fórum Social Temático volta a ocorrer em Porto Alegre, independentemente da agenda do Fórum Social Mundial. A universidade marcou presença no FST 2012 por meio do movimento estudantil e da cobertura jornalística feita pela Rádio Universitária, em parceria com a Associação de Rádios Públicas do Brasil (Arpub). Detalhes sobre os debates e a tônica do evento poderão ser acompanhados na próxima edição do Jornal UFG.

Cartaz indicando um dos locais de realização do FST 2012, o Armazém do Porto, na capital gaúcha
Fonte: Ascom/UFG
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