Ciência em Ebulição expõem divergências quanto aos caminhos trilhados para a astronomia brasileira

A adesão do Brasil como membro do Observatório Europeu do Sul custará, por ano, cerca de 143 milhões de euros ao estado

Por Michele Martins

Falta de clareza quanto aos termos do contrato e reais vantagens dessa adesão para o Brasil foram os principais pontos que marcaram a discussão sobre a participação brasileira no Observatório Europeu do Sul (ESO), promovida por mais uma edição do Ciência em Ebulição, em ocasião da 63ª Reunião Anual da SBPC. Os pesquisadores Kleper de Oliveira, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e João Evangelista Steiner, Universidade Federal de São Paulo (USP) conduziram o embate acompanhado por pesquisadores da área de astronomia.


À favor desta participação do Brasil, o astrônomo Kepler de Oliveira informou que o ESO é o observatório mais produtivo da atualidade e que em sete anos pesquisadores brasileiros já produziram 240 artigos científicos a partir de dados obtidos no observatório. De acordo com as informações do professor, 640 cientistas em 60 instituições no Brasil seriam diretamente beneficiados e que já está previsto um total de 36 noites disponíveis para a observação brasileira.

Kepler de Oliveira, astrônomo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul


No entanto, essa participação tem um preço. E foi justamente esse o ponto mais criticado por João Evangelista Steiner, tendo em vista que para um pesquisador brasileiro utilizar o observatório por uma hora é de 15,9 mil dólares. João Steiner ainda questionou: o acordo é bom para o Brasil? Para ele os valores gastos com esta adesão serão muito altos. Em dez anos o valor gasto será de 600 milhões de reais distribuídos com despesas de manutenção de equipamentos e construção de um superobservatório. “Qual a razão da astronomia receber mais recursos financeiros em detrimento a outras áreas do conhecimento sendo que é responsável por apenas 1% da produção científica nacional? Na prática não estaremos subsidiando a ciência européia e usufruindo pouco ? ”, destacou João Steiner.

João Evangelista Steiner da Universidade de São Paulo


O acordo assinado pelo então ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, em 29 de dezembro de 2010, ainda será submetido à aprovação do Congresso Nacional. O único consenso nesta edição do Ciência em Ebulição foi que a própria comunidade científica ainda não está bem informada sobre os detalhes desse acordo.


Sobre o ESO


O ESO é composto por três observatórios e já opera há 40 anos. Está instalado na região do deserto de Atacama, no Chile. Um de seus observatórios situa-se a 2400 m de altitude, 600 km a norte de Santiago do Chile. Este observatório abriga vários telescópios ópticos com espelhos de diâmetros que vão até aos 3.6 metros. O New Technology Telescope foi o primeiro no mundo a ter o espelho principal controlado por computador, uma tecnologia desenvolvida no ESO e hoje aplicada à maior parte dos grandes telescópios do mundo inteiro, responsável pela descoberta de planetas extrasolares.


De acordo com o site do Ministério da Ciência e Tecnologia, além da construção do E-ELT (European Extremely Large Telescope), o Brasil deve participar dos outros dois principais projetos do ESO: Giant Magellan Telescope - GMT; Thirty Meter Telescope.


O Brasil é o primeiro país não-europeu a participar do ESO, que conta com 14 países da Europa. Embora as instalações para a construção do telescópio estejam no Chile, este serve apenas de abrigo devido às melhores condições climáticas e geográficas para o estudo da astronomia.

 

Fonte: Ascom / UFG