Espetáculo Circum-Navegações é apresentado na Emac

Depois de esquartejar o identitarismo indigesto do Anjo Negro de Nelson; desfibrilar arritmias quando As Máquinas Param em Plínio; reagrupar, pela repetição e diferença, o bélico insano nas rubricas da Guernica de Arrabal; subtrair, em Mahieu, a infantilização do poder e das violências que imperam nos Jogos na Hora da Sesta; para então deixar-nos levar pelas ausências que institucionalizam o decoro catedrático da excludente e soberba Festa de Pinter; ao fazer da tarefa de compor coletivamente dramaturgias de ensaio um exercício infindo experimentado no corpo, na voz e na ação, apostamos na prática da leitura e da discussão literária como gestos políticos de complexificação interpretativa, que conferem criticidade ao fazer teatral.

A performatização elíptica que agora se desvela em cena, decorre da conformação honesta da circularidade errante de suas navegações bibliográficas. Essa profusão de referenciais ainda se mescla aos fragmentos cirúrgicos e cortantes de Gloria Anzaldúa, Paul B. Preciado e Édouard Glissant, numa tentativa combinatória e desburocratizada de curvar histórias e palavras em estilhaços que ora especializam sons, memórias, desejos e imagens, ora disparam questões sem respostas. Mas que informam sobre o absurdo teatralizável de um tempo, e que emprestam corpo e densidade a uma polifonia de vozes dissensuais - nossa metralhadora incessante de poesias.